Presságio: II

Me mataria em março

se te assemelhasses

às cousas perecíveis.

Mas não. Foste quase exato:

doçura, mansidão, amor, amigo.


Me mataria em março

se não fosse a saudade de ti

e a incerteza de descanso.

Se só eu sobrevivesse quase nula,

inerte como o silêncio:

o verdadeiro silêncio de catedral vazia,

sem santo, sem altar. Só eu mesma.


E se não fosse verão,

e se não fosse o medo da sombra,

e o medo da campa na escuridão,

o medo de que por sobre mim

surgissem plantas e enterrassem

suas raízes nos meus dedos.


Me mataria em março

se o medo fosse amor.

Se março, junho.

Biblioteca Poeta, 2025