Presságio: V

Amargura no dia

amargura nas horas,

amargura no céu

depois da chuva,

amargura nas tuas mãos


amargura em todos os teus gestos.


Só não existe amargura

onde não existe o ser.


Estão sendo atropelados

em seus caminhos,

os que nada mais têm a encontrar.

Os que sentiram amargura de fel

escorrendo da boca,

os que tiveram os lábios

macerados de amor.

Estão terrivelmente sozinhos

os doidos, os tristes, os poetas.


Só não morro de amargura

porque nem mais morrer eu sei.

Biblioteca Poeta, 2025