Presságio: VII

Maria anda como eu:

Impossibilitada de fazer

tudo o que quer.


Tem mãos amarradas,

ar de doente, olhar de demente,

cansada.


Maria vai acabar como eu:

covarde nas decisões,

amante das cousas indefinidas

e querendo compreender suicidas.


Maria vai acabar assim sem rumo,

andando por aí,

fazendo versos

e tendo acessos

nostálgicos.


Maria vai acabar

bem tristemente.

De qualquer jeito,

lendo jornais,

tendo marido

indefinido.


(Não sei por que Maria

quer compreender

muito, demais,

a vida do suicida.

E Maria vai acabar

se fartando da vida.)


A vida, coitada,

é camarada, gosta de Maria,

quer fazer Maria viver mais,

porque Maria é desgraçada.

Quer deixá-la para o fim,

assim à mostra,

e eu francamente não entendo

por que Maria não gosta

da vida.

Biblioteca Poeta, 2025