Elizabeth Leaves A Letter For Dr. Frankenstein
por Jennifer Reeser, tradução de Yonas Marinho

Se as nuvens abandonaram Genebra naquela noite

ninguém pode dizer agora, mas o que me lembro são rosas

machucadas nas bordas, e xícaras de porcelana amareladas pelo tempo.

“Estou farta dos vapores internos,” eu te disse,

“Encontre para nós um cantinho ensolarado, e o torne seguro...

Diga-me novamente que sou tão adorável que os insetos não mordem.”

Você lembra, Victor? Um tempo antes do prazer

transformado em sacrilégio, sedento por ameaçar os mortos.

Tantos segredos você sussurrou -- mas eu, como uma criança

atraída por mim mesma, saudável e alegre ao ouvir meu próprio choro,

entediada com suas histórias de fantasmas, deixei você tarde e cedo demais.

O sol deixou ou alterou o topo da relva

sutilmente, a cada mudança da brisa, conforme as sombras exigiam --

escuro, mas não preto, como o meu cabelo; e você dizia que todo instante

que alguma mulher de sobrancelhas ruivas aparecia, eu voltava á sua mente.

Cedo ou tarde, o nosso futuro entrará nela, também.

Agora, no entanto, a esperança parece uma visão difícil de conjurar;

o que você imagina sobre beleza tão alojado em trivialidades sinistras

que até mesmo as frases ditas dentro dela são sombrias.

O luto vai passar, eu sei -- assim como o seu pesadelo em Ingolstadt.

Sinos irão ressoar. Eu irei até você. Tudo ficará bem.

Biblioteca Poeta, 2025